José Antônio Mazza Leite, o maior responsável pela fundação do Museu do Charque, lançando seu livro XARQUEADAS, março, 2012 |
Em 1752, casais açorianos trazidos pelos portugueses receberam terras na região da Lagoa dos Patos, rios rios Guaíba e Jacuí, inicialmente dedicando-se ao plantio de trigo. Como Portugal proibia as culturas e produtos que concorressem com os similares de Portugal, e também pela grande incidência de ferrugem nas lavouras, em 1820 esse cultivo foi abandonado. Motivados pelo crescimento da indústria do charque, voltaram-se para a pecuária que, além de altamente lucrativa, não sofria restrições por parte de Portugal.
A bonita e bem cuidada sede da Charqueada Boa Vista, aberta ao turismo com passeios de barco e recepções, com excelente estrutua interna e externa |
O estabelecimento das charqueadas em Pelotas por volta de 1780, mais tarde em Santo Amaro e Triunfo, gerou grande riqueza na região, os escravos tornando-se a sua principal mão-de-obra. A carne passou a ter valor econômico, o boi transformando-se num produto industrializado que chegava aos mercados consumidores. O Rio Grande do Sul vinculou-se a São Paulo, enviando trigo e charque, alimento básico dos escravos que trabalhavam na cultura do café.
O belo trapiche da Charqueada Boa Vista, onde antes ancoravam os barcos que se abasteciam de charque |
Produzindo e comercializando alimentos e artigos de primeira necessidade, os imigrantes proporcionaram melhor poder aquisitivo à população de baixa renda, dando ao estado um poder de compra bem maior do que noutras regiões do país. A convivência dos grandes latifundiários com os imigrantes europeus deu origem a uma estrutura social e produtiva, que tinha em comum a orientação para o mercado interno brasileiro, mas diferente em suas formas de trabalho e de acesso à propriedade. Os primeiros tinham a economia baseada na pecuária extensiva e voltada para a exportação, fabricando charque e outros produtos de origem animal, observando rigorosa hierarquia entre seus integrantes (latifundiários, peões e escravos). Voltada para o abastecimento interno e socialmente mais igualitária, a segunda era constituída por pequenos proprietários. Baseava-se na agropecuária familiar, com grande diversificação de produtos, alguns beneficiados e processados industrialmente como banha, vinhos, farinhas (milho e trigo), fumo e erva-mate. Com acelerado crescimento, aplicavam seu capital em firmas comerciais, favorecendo um aumento contínuo das exportações gaúchas. Abasteciam o mercado local e dela se originou a indústria regional.
Congresso dos charqueadores, século passado |
A produção das estâncias, a diversificação produtiva da colônia e o processo de industrialização, estimulados pelo Partido Republicano Riograndense, tornaram o Rio Grande do Sul auto-suficiente, possibilitando-lhe um grande avanço econômico.
Esta postagem baseia-se em texto do livro O TROPEIRO QUE VIROU REI, de Vera Rheingantz Abuchaim.
Acesse os seguintes blogs:
Nenhum comentário:
Postar um comentário