quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ARROIO PELOTAS IV






Adquirindo várias granjas do Retiro ao Laranjal, o Cel. Pedro Osório associou-se a diversos industrialistas e pecuaristas da época que desejavam tentar a rizicultura, destacando-se João Schild, Francisco Borba, João Simões Lopes, João Ribas, alem de outros. Assim foram consolidadas as primeiras firmas arrozeiras chefiadas pelo futuro "Rei do Arroz" onde, na safra de 1914 numa área cultivada de cerca de 1200 ha, foram colhidos mais de 60 mil sacos do cereal. No ano anterior o técnico Henrique Semler, contratado pelo Ministério da Agricultura, ao visitar nosso Estado assim se manifestara em relatório apresentado ao Ministro dr.Pedro de Toledo:
“Os arrozais do Cel.Pedro Osório, a 20 km de Pelotas, pela área cultivada, maquinismo empregado no preparo do solo, sementeira, ceifa, debulha, secagem e beneficiamento do grão, são considerados os melhores do Brasil”.


Paralelamente ao desenvolvimento do plantio, houve que promover a ampliação dos meios de beneficiamento do arroz. O Engenho do Cascalho, primeiro estabelecido e situado junto à lavoura do mesmo nome à margem direita do arroio Pelotas, foi construído pelos reputados fabricantes Kauff & Bulle, com capacidade para beneficiar 800 sacos de arroz em 12 horas, dispondo de iluminação elétrica e amplos galpões para depósito do cereal.
Em 1922 as principais granjas à beira do arroio Pelotas eram Retiro, Graça, Cotovêlo e Galatéia. A Granja do Retiro, abrangendo uma área de 1000 ha de magníficas terras cultivadas por modernos e aperfeiçoados equipamentos, foi palco para a instalação de possante máquina importada da Alemanha, pelo custo de duzentos e cincoenta contos de réis, que lançava nos arrozais do Retiro e Cotovêlo o respeitável volume de oitenta mil litros de água por minuto. A Granja da Graça tinha uma área cultivada de 400 ha, onde eram semeados 1200 sacos de sementes anualmente, tendo produzido em 1918 trinta mil sacos de arroz em casca, indiscutìvelmente ótima produtividade na época. Nas granjas do Retiro, Cotovelo e Cascalho, foram também plantados 30.000 pés de eucalipto, para fornecer combustível às fornalhas dos levantes e engenhos.




Como complemento indispensável para a conveniente organização dos múltiplos serviços de suas empresas, ainda possuía Pedro Osório 14 embarcações de pequena cabotagem, empregadas no transporte dos produtos de seus estabelecimentos agrícolas, dos engenhos e da charqueada, atendendo também ao trânsito de cargas entre os portos de Rio Grande e Pelotas. Com um aparelhamento completo de charqueadas, barracas, fábricas de conservas, sabão e velas, lavouras, embarcações, fazendas e invernadas, empregava milhares de trabalhadores, para os quais nunca faltou sua assistência.
Criava-se em nosso município, por imposição das necessidades da lavoura arrozeira, a nova indústria dos fertilizantes, com o aproveitamento dos resíduos das charqueadas, antes em parte perdidos e noutra parte exportados para fora do Estado. Aos enormes benefícios que a nova atividade agrícola proporcionava à economia nacional, juntava-se mais este, de importância fundamental: a conservação da fertilidade das terras e melhoria das pastagens pela drenagem, nivelamento e adubação sistemática, das lavouras do Cel.Pedro Osório partindo as primeiras iniciativas.
Tambem às margens do arroio Pelotas, na Fazenda do Cascalho, foram estabelecidos os primeiros pomares (década de 1930) com mudas de pessegueiros, macieiras, pereiras, ameixeiras, e muitas outras, vindas da Europa por iniciativa do genro de Pedro Osório, Paulo Affonso de Sá Rheingantz, assim como o aspargo. Produto importantíssimo dos anos 1950 até 1980 na região de Pelotas, graças à continuação, à ampliação, e à tecnificação da lavoura de aspargos por seu filho, Oscar Luis Osório Rheingantz, a partir de 1943, que passou a industrializá-lo a partir de 1953 com a marca HELOMAR.

(texto baseado no livro "Dr.Oscar e seus Empreendedores Ascendentes" deste boguista)








terça-feira, 18 de outubro de 2011

ARROIO PELOTAS III

foto: antigo levante do Cel.Pedro Osório no Arroio Pelotas

Com a crise do charque, ocorrida durante o período da República, os charqueadores de Pelotas buscaram alternativas econômicas mais viáveis como a produção e industrialização do arroz, de frutas de clima temperado (sobretudo o pêssego), alem da criação de gado.
As primeiras lavouras comerciais de arroz no país foram irrigadas pelo arroio Pelotas, por volta de 1907, quando o Cel.Pedro Osório investiu nesse produto, do qual foi “rei”, na Fazenda do Cascalho, sob os cuidados do sr.Francisco Malaquias de Borba,plantando muito em suas margens, e posteriormente nas fazendas Cotovêlo, Galatéia, D.Cecília, e Estância da Graça, todas com água do arroio Pelotas. Ainda no Cascalho, foi construído pelo cel.Pedro Osório o provável “primeiro engenho de arroz do Brasil”, se não foi em Caxoeira do Sul, com a produção escoada por chatas via arroio Pelotas, importante via fluvial para transporte da produção local e fonte de água para milhares de hectares de arroz.
Pedro Osório, proprietário de inúmeras charqueadas e estâncias às margens do arroio Pelotas, não entrou para a cultura e beneficiamento do arroz por acaso ou aventura: julgou ser o momento de aproveitar as ótimas terras gaúchas para esse cereal que teve, no Brasil, o primeiro país da América do Sul a cultivá-lo (início do século XIX) embora sendo um dos últimos a produzi-lo em abundância. Não se sabe exatamente onde termina o ciclo do charque e onde começa o ciclo do arroz.
Disse Ribeiro Tacques: “até o princípio deste século o Brasil importava arroz para o seu consumo, na importância de cêrca de vinte mil contos anualmente” (O arroz no R.G.S., pág.18) e, quando o governo compreendeu a necessidade da adoção de medidas protecionistas, o gênio empreendedor de Pedro Osorio “voltou suas vistas perscrutadoras para a agricultura tornando-se, desde 1907, talvez o mais afoito e pertinaz pioneiro da cultura extensiva do arroz em nosso Estado” (Almanaque de Pelotas, 1925).
Embora precedido por outros nesta atividade (desde o século XVIII pequenas culturas sem expressão econômica existiram a largos intervalos em especial nos estados do norte, e algumas tentativas no início do século XX hajam influído como precursoras de sua iniciativa) cabe a Pedro Osório destacado lugar entre os pioneiros da lavoura arrozeira gaúcha. Em 1904, a montante do primeiro arrozal de Pedro Osório no Cascalho, fôra lançada a primeira lavoura arrozeira do sul do Estado por “Irmão Lang & Saenger”.
“O seu sadio idealismo, cívicas, filantrópicas e industriais vibrações, determinaram para Pelotas maravilhosa renascença. Para essas paragens convergiu gente da circunvizinhança. Povoou o deserto e, às margens do Pelotas e Piratini, se levantaram as choupanas onde, até hoje, reinam ordem, paz e felicidade, outorgadas aos agricultores pelo trabalho diuturno e honesto” (Visão Panorâmica de Pelotas).

sábado, 25 de junho de 2011

ARROIO PELOTAS - II

A região que abriga a bacia hidrográfica do Arroio Pelotas era, até fins do século XVII, habitada pelos indígenas das tribos Tapes e Minuano, que viviam da caça e da pesca, chegando a estabelecer, num estágio mais evoluído, pequena produção agrícola (com predominância do milho e da batata doce). Com economia rudimentar, por volta da segunda metade do século XVIII essa região ainda era uma vasta solidão coberta de matas que desciam cerros e colinas por encostas abaixo, ameaçando invadir planícies por onde cordões cerrados acompanhavam o curso do arroio, disseminando-se restingas e capões pelos seus varzedos.
A exploração da indústria saladeril, principalmente depois da segunda década do século XIX, promoveu um crescimento demográfico por estancieiros e antigos posseiros, pequenos agricultores, e escravos vindos para o trabalho rude nas charqueadas.
O acesso ao mar era fácil, facilitando o escoamento do charque. Mas havia um grande problema: as enchentes. A maior parte das charqueadas estava localizada nas várzeas, em terras mais para o interior da vila, com o objetivo de evitar as dunas de areia que, sob a ação dos fortes ventos litorâneos, poderiam arruinar a produção.
Às margens do arroio Pelotas, o Cel.Pedro Osório adquiriu e arrendou suas primeiras charqueadas, depois estendidas por todo o RS (de Caxias a Tupanciretã, de Quaraí a Bagé), tornando-se o maior charqueador gaúcho no final da “era do charque”: em 1886 comprou do sr.Leonídio Antero da Silveira o abandonado estabelecimento situado à margem direita do Arroio Pelotas denominado Charqueada do Cascalho, em dois anos conseguindo fazê-lo funcionar e conquistando um alto conceito no comércio exportador do charque. Em 1896, Pedro Osorio comprou a Charqueada Solar da Figueira, situada na mesma margem do Arroio Pelotas, nela havendo um casarão construído por Bernardino R. Barcellos para residência da família, ainda hoje existente, conhecido como “Colônia de Férias D. Branca Dias Mazza”. O cel.Pedro Osório tambem adquiriu a Charqueada da Costa, fundada por Domingos José de Almeida.
Geralmente as charqueadas do cel.Pedro Osório, à margem do arroio Pelotas, iniciavam a safra no município. Na relação da matança safra 1905, e nas anteriores, Pedro Osório & Cia. foi a empresa de maior destaque com 32.850 rezes (adaptado do livro "O Tropeiro que virou Rei, de Vera R.Abuchaim").

sexta-feira, 25 de março de 2011

ARROIO PELOTAS

Foto: o arroio Pelotas contornando a Faz.do Cascalho (1958)




A água, produto cada vez mais raro no mundo, abunda no Arroio Pelotas, o maior manancial de água doce da região. Sua bacia hidrográfica abrange 909 km2 (90.900 ha), com 85km de extensão. Nasce a partir dos arroios Caneleira e Quilombo, com contribuição dos arroios Andrade e Cadeia.



Tombado por projeto legislativo (lei 11.895/2003) do saudoso Bernardo de Souza, ex-deputado estadual do RS e ex-prefeito de Pelotas, foi considerado Patrimônio Cultural do Estado, fazendo parte obrigatória de nossa história por sua importância ecológica, seu efeito social, sua potência turística, e muitos outros atributos.



Em suas margens estabeleceram-se diversas e históricas charqueadas, que muito renderam para Pelotas no "ciclo do charque", tais como a São João (1810) do português Antônio Gonçalves Chaves, a Santa Rita (1826) de Inácio Rodrigues Barcelos, as charqueadas do barão de Jarau e do barão do Butuí, a Costa do Abolengo de Boaventura Rodrigues Barcelos, a Boa Vista do barão do Arroio Grande, Bernardino Rodrigues Barcelos e Antônio Oliveira de Castro, a do Cascalho de Leonídio Antero da Silveira, e muitas outras.



O nome "Pelotas" deriva de uma embarcação de couro crú, em forma de cesto, com armação de galhos de árvores, utilizada para fazer a travessia dos produtos que não podiam ter contato com a água no ponto mais estreito do arroio (charqueada dos Fontoura). Às vezes, levava tambem passageiro. De origem marroquina, foi trazida pelos espanhóis e difundida entre os indígenas, sendo rebocada por um nadador com uma corda presa nos dentes, ou por um cavaleiro. Essa embarcação era chamada de "Pelota".



A partir das margens do Arroio Pelotas começou a integração do sul com o resto do Brasil, abastecimento de charque para os escravos dos canaviais nordestinos (as embarcações retornavam de lá carregadas de açúcar), e com a Europa, exportação de couro e charque (voltando carregados de mercadorias e novidades culturais especialmente de Paris). No intercâmbio náutico, a riqueza gerada pelas charqueadas permitiram a apresentação de peças teatrais européias no Teatro Sete de Abril, a vinda de móveis, de arte, de moda, e de costumes da capital francesa, rendendo à antiga Freguesia de São Francisco de Paula, depois vila com o mesmo nome e, finalmente, cidade de Pelotas (1835), o título de "Paris da América do Sul" no final do século XIX. (este artigo foi baseado no ótimo trabalho de mestrado de Rafael Cruz da Silva, FURG) OBS: críticas ou contribuições para cgrheingantz@gmail.com